Repensando o papel do masculino

Para Jung, todos nós temos nossa camada consciente, que seria nossa camada superficial da percepção, ligada a eventos externos e a vida particular de cada um. Todos também estamos no inconsciente coletivo, que são bases do nosso inconsciente muito mais profundas, e que concernem não apenas o nosso individual, mas onde encontram-se padrões de comportamento e imagens, que são universais, primordiais e comuns a todos os seres humanos. Esses padrões de comportamento e imagens podem ser vistos também como papéis que desempenhamos, e vividos de forma positiva ou negativa conforme for a vivência de cada um, aparecendo não em uma ordem específica, mas conforme as coisas acontecem em nossas vidas e em nossos momentos, e por vezes um arquétipo tem de ser bem resolvido para que se possa vivenciar outro de maneira saudável.

Dois arquétipos existentes e comum a todos, seria o Animus (lado masculino presente em todos) e a Anima (lado feminino também presente em todos). Nessa relação com esses papéis parece que com tantos movimentos feministas e essa grande volta dos olhares a anima, os homens hoje demonstram estar confusos sobre seu real papel como homem propriamente dito, confusos quanto ao seu papel no masculino e suas funções na sociedade como tal.

7a1db10a49e9e4f965c19f5d8ad350e8

Para que exista um desenvolvimento adequado de seu papel masculino, deve-se haver o diálogo do indivíduo entre esses dois lados. Antes de estar pronto para vivenciar o arquétipo do Mago ou de um Rei sábio, o homem deve primeiramente aprender como é ser um Guerreiro de verdade, e daí por diante.

3dfd958d7f8f0b2a227a473d3f18b9c9

Um homem vivendo seu arquétipo do guerreiro sem o devido diálogo com sua anima é brutal, como uma máquina de matar, um demônio exterminador, um assassino desprovido de sentido. Por outro lado, o guerreiro em comunhão com seus dois lados é um defensor, um lutador armado com valores que são sublimes para ele, pronto a sacrificar sua vida por outros, ou na defesa de ideais mais altos, ideais que podem ser extremamente importantes para seu grupo e seu meio.

O arquétipo do Rei, por exemplo, pode ser visto e entendido como uma energia que se manifesta através de um homem quando ele é capaz de dar os passos psicológicos e financeiros necessários para garantir que sua mulher e seus filhos vivam melhor. É o que incentiva a sua mulher quando ela resolve voltar a estudar e ser advogada, que se manifesta num pai quando ele deixa o seu trabalho por algumas horas para assistir ao recital de piano do filho. É essa energia que, através do chefe, enfrenta a rebeldia dos seus subordinados sem despedi-los, a energia que se manifesta em cada um quando se consegue manter a calma quando todo mundo na reunião já perdeu. É a voz da tranquilidade e da confiança, da palavra encorajadora numa época de caos e conflitos.

Se alguns homens começam a perceber que, se a sua natureza é caçar, devem caçar. Se a sua natureza é proteger, devem então proteger. Isto não significa que não possam também amparar ou ter sensibilidade e empatia. Em termos junguianos, depois que integram a anima os homens precisam retroceder no círculo e integrar o animus novamente a consciência profunda da masculinidade.

Todavia, no estado andrógino daí resultante, a masculinidade deixa de significar o machão antiquado que já não serve mais a um bom tempo: é possível ser homem e respeitar integralmente as mulheres, abandonando a ilusão de superioridade em prol da realidade da comunhão humana. A maior parte dos homens que passaram por tal processo descobriu que esse é um bom negócio.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *