É engraçado pensar em como a velocidade com que as coisas mudam no passar do tempo tem sido cada vez mais rápida, o que é muito evidente também no caso da tecnologia. Temos aparelhos que dobram sua capacidade de processamento a cada ano que passa, e que estão cada vez mais acessíveis a todos, nos facilitando o uso de redes sociais e comunicações. Nunca antes na história da humanidade estivemos tão conectados e sabendo tanto da vida dos outros como hoje. Com isso, pode se ver o tempo todo uma grande necessidade de sempre ter novidades e “atualizações” constantes, tanto de nossos aparelhos, que hoje nos acompanham em todo momento de nossas vidas, quanto de nossas próprias vidas. E o quanto, afinal, isso tem a ver conosco?
Essa velocidade de mudança e ritmo pode ser percebido principalmente por quem nasceu no final da década de 80 e passou pelos anos 90 em diante, acompanhando toda a ascensão da tecnologia, desde os grandes gabinetes de desktops até os tablets de hoje, e até mesmo a evolução da internet. Mas parece que juntamente com essa tecnologia, e com a dependência cada vez maior delas, acabamos de certo modo agindo como elas, servindo a elas e não o contrário, respeitando e indo no ritmo de avanço delas ao invés do nosso próprio. E consequentemente, parece que as relações humanas também se transformaram e tem se tornado cada vez mais, “dinâmicas”, mais rápidas e quase instantâneas.
Se pararmos para pensar e fazer um paralelo com a necessidade constante de atualizações e novidades, encontraremos um sentimento nunca antes tão mencionado quanto hoje em dia, o tédio.
Pouco se observa atualmente, pessoas se dando espaço para reflexão, ou contemplação, e é onde as coisas, simples e complexas, perdem seu valor e tornam-se banais. Deixamos de buscar e aprender coisas novas com nossas experiências e com os outros, pois nos acostumamos a sempre ver e receber novidades prontas todos os dias em nossas mídias, confortavelmente e sem esforço. O mesmo evento pode ser visto quando se trata de relações humanas, a contemplação do outro, assim como o respeito as limitações e qualidades do próximo são cada vez menos consideradas, e quem diria de si próprio.
Procuramos e compramos sempre o produto que vai melhor servir nossas necessidades, e quando ele se torna obsoleto (o que vem acontecendo cada vez mais rápido), geralmente o descartamos e procuramos outro melhor e que vai continuar nos servindo. Se fizermos um paralelo a nossas vidas, hoje muitas vezes agimos como se procurássemos sempre a via mais rápida para nos relacionarmos, buscando logo de imediato aquela pessoa que aparenta sempre ter os mesmos gostos, interesses, aptidões e etc, como se fosse uma determinante de que então, o relacionamento desse certo com toda a certeza, seja ele amoroso ou não.
Mas quando as coisas começam a acontecer de maneira inesperada, oposta as expectativas, é preciso a tomada de certas atitudes, como a de se fazer disposto a entender e conhecer realmente aquela pessoa até então idealizada, assim como ter a consciência de que vai ter de aprender a conviver também com aquilo que não agrada nesse outro, o que por sua vez leva a necessidade de um autoconhecimento, encarar os próprios defeitos e a própria sombra.
Tudo isso acaba exigindo um certo esforço e trabalho contínuo, em conjunto ou sozinho, fugindo totalmente da ideia inicial do imediatismo e da segurança garantida que antes se pensava ter com os pontos em comum. O que se observa nisso é que esse esforço é quase que imediatamente repudiado, e com isso toda a oportunidade de autoconhecimento, assim como qualquer outro aprendizado, dando início a um ciclo de se descartar o que não agrada ou o que não parece mais nos servir, para procurar então outro que sirva aquela necessidade de afirmação de nosso ego.
A velocidade com que isso acontece nos leva a necessidade alarmante de sempre ter de haver conteúdos novos para expor aos outros em redes sociais, mostrando como é interessante sua vida, numa busca de aceitação e inclusão, mas que no fundo é uma tentativa vã de se preencher um vazio que parece nunca ir embora. Isso repete-se nas relações imediatas de muitas pessoas, onde parece que fica apenas uma falta de vontade e interesse por si mesmo e pelos outros. Acabamos então facilmente caindo numa rotina, pois quando se consegue coisas de maneira tão imediata e fácil, raramente lutamos por algo e menos ainda damos valor, e rapidamente caímos no tédio, vivendo como se aquilo fosse nosso destino para sempre.
Então, assim como nas redes sociais, a continuidade e término de relações, amorosas ou não, começam e acabam num simples gesto de um clique ou de um toque, sem fechamento, sem maiores satisfações.
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