Será que tenho talento para ser o Batman?

Você acha que hoje está fazendo o que precisa para tornar sua vida próspera e feliz? Mas assim, algo que te faça crescer como pessoa, que te aproxime de si mesmo, que te permite se desenvolver e despertar suas potencialidades, tanto quanto a de quem está a sua volta? Esse é o tipo de coisa que exige dedicação, pois é um cultivo, algo do qual se planta hoje para colher em algum momento do futuro, estar entregue a si hoje através desse sacrifício, para posteriormente poder agradecer ao você do passado pelo presente dado.

A maioria talvez seja repelida pela ideia de se sacrificar para construir algo sólido, a longo termo, algo que não apenas deixará a si prório orgulhoso e satisfeito, mas que também poderá ser deixado como um legado a posteridade. Esse tipo de pensamento é um produto de quando conseguimos desenvolver nosso senso de indidualidade de modo saudável, a ponto de entender como e com que intensidade nossa existência influencia tudo a nossa volta, e claro, quanto mais se tem a noção da importância de investir em si mesmo, mais se torna possível amadurecermos o suficiente para começarmos a pensar até mesmo na raça humana como um coletivo, que pode não seguir exatamente, mas aprender e se insipirar pelos nossos passos.

É claro que a palavra em si, “sacrifício”, remete a algo extremamente desagradável, afinal quem é que gosta de sofrer? e ainda por cima, quem em sã consciência escolheria deliberadamente o sofrimento?

Mas, não é fato que, mesmo se você estiver gastando todo o seu dinheiro e tempo em festas, no “social”, o máximo possível em lazer, prazeres e distrações, o que por sinal não nos falta hoje, ainda assim haverá sofrimento? haverá alguma dificuldade, algum probleminha imprevisto que vai te atormentar até ser resolvido? E para piorar, normalmente não se posterga até o último momento?

Então só nos resta parar e começar a aceitar que o sofrimento é inerente a vida humana, e indispensável ao nosso desenvolvimento. Adiar a necessidade de lidar com esses problemas, é fugir desse processo que mais é uma oportunidade de um progresso do que apenas um martírio, e no fim das contas, será que foi realmente tão doloroso assim? É necessário nos colocar a esse trabalho, pois as questões que aparecem para cada um, são únicas, tanto quanto o modo com que cada um lida e emerge dessas dificuldades, vitorioso ou não, também é único.

Vivemos na era da anestesia, onde parecemos estar desaprendendo a assumir a própria vida. No lugar de vivermos lá fora a vida real, preferimos passar a maior parte do ano imersos em micro universos que emulam de forma oca e vaga a própria realidade que decidimos rotular como cruel e insuportável. Gostamos disso principalmente pela ilusão de controle que isso nos dá, pois afinal, quando conseguimos medir o quanto somos aceitos e amados através de contadores digitais indicando curtidas, amigos, comentários, nos sentimos muito melhor, e se não temos muito disso, achamos que somos ruins, e poder excluir/bloquear alguns seres audaciosos que não concorda ou com quem não concordamos? pra que dialogar afinal.

Mas… e aí? E quando voltamos a erguer nossas cabeças da nova posição padrão que nossos aparelhos nos forçam a ficar a maior parte do dia, o que de fato mudou referente a esses contadores? sua vida não segue? ela realmente está mudada ou melhor quando se consegue um número maior?

Com isso, nos privamos de todo tipo de contato real, de toda oportunidade de nos confrontarmos e crescermos com o que a vida tem para nos ensinar, e não há mais diálogos, apenas indiretas, e perceba que tudo isso facilmente nos faz tomar um rumo completamente oposto daquilo que se começou falando nesse texto. Nietzche fala sobre isso nesse trecho: “…cada homem por natureza tem acesso a muitos talentos. Todos possuem talentos inatos, mas poucos possuem um grau de…dureza adquirida, resistência e energia para verdadeiramente se tornar um talento, ou seja, para se tornar o que são.”. Em outras palavras, todo mundo quer ser o Batman, mas pouquíssimos querem se submeter ao mesmo processo que ele se obrigou a passar para se tornar o Batman.

Parecem palavras duras certo? Mas frente a esses fatos, será que são tão duras com o modo como viemos a tratar a nós mesmos sem talvez nem sequer ter percebido? Sei lá, acho interessante pensar a respeito, quem sabe não mudamos de ideia né.


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